sábado, 30 de janeiro de 2016

Página do Facebook afirma que Bolsonaro é socialista (!)

Quando alguém propõe estatizar (ou nacionalizar) alguma empresa, não quer dizer que o país vai se tornar socialista, nem que quem propôs é socialista


A página Vitimismo Bolsonete, aparentemente administrada por um defensor do libertarianismo, soltou essa seguinte pérola: 



Depois que eu questionei a postagem, ele mandou mais essa pérola:


Com certeza, as propostas do Bolsonaro não podem ser enquadradas como "liberais", mas não quer dizer que sejam "socialistas". Longe, muito longe disto.

Vamos primeiro à questão econômica. Estatizar o nióbio, dizer que "quer construir tudo aqui" (sabe-se lá que ele quis dizer) ou impedir o capital estrangeiro não chega nem perto de ser socialismo. O socialismo tem economia planificada, ou seja, há um controle global do Estado sobre a economia. A propriedade privada é abolida. A livre iniciativa empresarial é inexistente, pois não existem empresas e bancos privados, tudo pertence ao Estado. E eu estou mencionando o socialismo real. O socialismo marxista clássico prega a socialização dos meios de produção, que não é mesma coisa de estatismo. A inspiração do socialismo real é o marxismo-leninismo.

Agora a questão social. "Deixar as liberdades à mercê do estado a despeito dos indivíduos" não é exclusividade do socialismo. Portanto, sugerir que Bolsonaro é socialista, por esse motivo, é bobagem. E o socialismo vai muito além de deixar as liberdades "à mercê do estado". 

Bolsonaro é um conservador. O Conservadorismo também reprime liberdades individuais, e em nome da "tradição, família e moral cristã". Toda aquela liberdade individual que for de contra-mão a essa trindade, o conservador vai querer que o estado reprima (proíba) como, por exemplo, uso de drogas, aborto e até união civil de homossexuais. 

Totalitarismo

O socialismo vai muito além da repressão de liberdades individuais. Esse sistema requer uma homogenização da sociedade. E isso só é possível através do totalitarismo, um sistema em que a ideologia do Estado é inculcada na cabeça da população no intuito de torná-la submissa ao governante. 

Trata-se de um princípio que tem raízes no hegelianismo. O Estado é tido como a manifestação da suprema e perfeita realidade, representante da totalidade do interesse dos indivíduos. O totalitarismo faz com o que o Estado coincida com a totalidade da sociedade, em todos os setores: vida familiar, econômica, intelectual e religiosa.

Nacionalismo

Se Bolsonaro sugerisse estatizar absolutamente tudo (empresas e bancos) no país, coletivizar os meios de produção, mudar a Constituição para abolir a propriedade privada e assim extinguir a livre iniciativa empresarial, eu até concordaria com o Vitimismo Bolsonete. Mas o deputado fascista não chegou nem perto disso.

Então onde se enquadram exatamente as propostas de Bolsonaro?

Bolsonaro é um Éneas muito menos intelectualizado, ou seja, é homofóbico, autoritário e, no caso aqui, principalmente nacionalista. Essas propostas podem ser enquadradas como aplicação de ideais nacionalistas na economia. 

Quando alguém propõe estatizar (ou nacionalizar) alguma empresa, não quer dizer que o país vai se tornar socialista, nem que quem propôs é socialista. A grande maioria dos países do mundo (exceção talvez de Cuba e Coreia do Norte) utiliza de sistemas capitalistas com economia mista, onde coexiste economia de mercado e intervenção moderada do Estado, é o caso do Brasil. Não há nenhum país 100% liberal. Até os EUA têm estatais. O que existem são países cujo governos utilizam muita intervenção estatal e países cujo governos que utilizam pouca intervenção, mas que ainda assim utilizam (países neoliberais). 

Essa turma que divide o mundo em socialismo x capitalismo ainda não saiu da Guerra Fria.

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